31.1.08

O retorno

Pequeno Projeto de Jornalista 2008.


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15.12.07

Folha do Mate

Os textos publicados abaixo fazem parte de um caderno especial de Natal que eu ajudei a fazer. Queria colocar mais fotos, mas tive problemas com o blogger. Assim que possível eu completo as matérias. A crônica "Os dois lados de um Natal" foi assinada. Já as reportagens tiveram crédito no expediente da edição.

Os dois lados de um Natal

Quando temos seis anos, uma bicicleta parece ser o maior desafio do mundo. Lembro dos meus olhos surpresos ao ver o presente enorme conduzido pelo cara estranho vestido de vermelho. Nada contra o Papai Noel, nunca tive medo dele, mas convenhamos que é no mínimo curioso um senhor com tanta roupa em pleno verão.
A bicicleta rosa tinha um laço enorme da mesma cor. Fui desconfiada até o colo do velhinho e sentei, no entanto meu olhar estava fixo no objeto ao lado. Respondi as perguntas básicas como “Comportou-se bem durante o ano?”. Queria gritar: “Sim, Papai Noel, sou uma menina boazinha, mas dá pra tu me entregares de vez o meu presente?”. Acho que desse jeito ele não me daria nada, então optei por dizer um sim apressado.
O presente foi marcante para a pequena que na época só podia dar a volta na quadra. Hoje, percorri caminhos bem maiores e uma bicicleta já não tem o mesmo significado de independência. Entretanto, naquele momento era o meu sonho e o Natal fez com que ele se tornasse verdade.Desde então, vejo tal data com uma magia peculiar. A época natalina passou a significar a possibilidade de alcançar o que almejo. Sendo assim, gostaria de deixar uma mensagem de esperança. Que as pessoas sintam essa fantasia e não deixem nunca de sonhar. Esse é o meu pedido para o Natal 2007, além da máquina fotográfica digital.

Se eu fosse Papai Noel...

Todo ano, no mês de dezembro, a figura do Papai Noel se torna constante na rotina das pessoas. O bom velhinho aparece nos enfeites natalinos, na decoração das casas e em propagandas do comércio. Sua imagem faz parte da magia e dos preparativos para o Natal. Tanta fantasia mexe com a imaginação, principalmente das crianças. Sendo assim, a Folha do Mate conversou na 14ª Bierchoppfest com meninos e meninas para saber o que os pequenos fariam se fossem o próprio Papai Noel. Confira as respostas:

O tímido Leonardo Vinicius Schwengber, de 5 anos, afirmou:
“Eu ia dar um presente pro meu primo Gustavo”

Grazielle Beatriz Jantsch, de 8 anos, mostrou-se generosa ao declarar:
“Eu daria presentes para todas as pessoas”

Afonso Konzen Siebeneichler, de 7 anos, não hesitou e logo respondeu:
“Eu iria jogar balas”
Guilherme Heck Ortega, de 10 anos, teve uma resposta imediata:
“Eu ia dar presente para todo mundo, para a minha família, para as minhas avós, eu ia visitá-las. Daria presentes para as crianças pobres para fazer elas felizes”
A pequena envergonhada Carolina Paiva, de 4 anos, respondeu o seguinte:
“Eu colocaria a roupa de Papai Noel e também os sapatos. Depois, eu daria presentes para os meus coleguinhas”
Diana Mello, de 10 anos, ficou pensativa e em seguida afirmou:
“Eu ia sair distribuindo brinquedos para os outros Papais Noéis”

Juan Roberto de Azevedo, de 7 anos, sorriu e disse o seguinte:
“Eu ia dar presentes para os meus amigos e para as outras crianças”

Érick Luiz Hinterholz, de 9 anos, pensou e depois respondeu rapidamente:
“Eu daria presentes para os pobres e ricos para eles serem felizes”

Intermediando sonhos

Uma matéria do jornal Zero Hora despertou a atenção de Fernanda Lakus, em dezembro do ano passado. O texto abordava as cartinhas mandadas por crianças de Porto Alegre para o Papai Noel. O correio organizava esse material e quem tivesse interesse em ajudar era só ir até uma agência.
A iniciativa notável na Capital fez com que Fernanda fosse até o Correio de Venâncio para se informar sobre o funcionamento dessas atividades na cidade. Ela descobriu que aqui o sistema era parecido e resolveu colaborar.
No dia 21 de dezembro de 2006, a jovem de 27 anos saia do Correio com 10 cartas. Imediatamente, ela falou com seus familiares para que eles a ajudassem a realizar o desejo das crianças selecionadas. Como o Natal já estava muito próximo, não foi possível atender todos os pedidos. Fernanda adquiriu seis presentes e devolveu as outras quatro cartas.
Além de contar com o auxílio da família, uma amiga também contribuiu. Como a experiência foi positiva, esse ano Fernanda se antecipou e foi mais cedo no Correio. Na sexta-feira, dia 7, ela buscou diversas cartas e de noite as levou para a janta da Academia Papaventuras.
Na ocasião, integrantes da academia leram as cartas em conjunto e se organizaram para atender o maior número possível de pedidos. A proprietária da Papaventuras, Rose Muller, apóia a idéia. Fernanda ressalta: “Faz bem para os outros e volta para ti”.
Mais uma vez os familiares foram convocados para verem as cartas. Fernanda divulgou também a atividade do Correio no escritório em que trabalha, o Matriz Factor Limitada. Alguns clientes e empresas maiores se dispuseram a colaborar. Fernanda afirma que sempre quis participar de atividades solidárias: “Tu quer ajudar de alguma forma, mas não sabe como”. Com suas ações, ela é uma intermediaria entre as crianças e pessoas que têm condições de realizar os pedidos, que na maioria das vezes são simples. Ela destaca a iniciativa: “É uma forma de poder ajudar que o Correio está colocando para a gente”.

Costumes que passam por gerações

Para algumas pessoas, montar a árvore natalina é sinônimo de obrigação. Já outros, consideram a atividade um momento muito especial. É o caso de Margô Schmidt Guterres e sua mãe, Romana Schmidt. As duas sentem prazer em prepararem as suas casas para a chegada da noite de Natal.
Bolas, pinhas, laços, luzes e presépio. A decoração do pinheirinho de Margô é completa. O primogênito Théo, de 12 anos, é o responsável pela organização da manjedoura na base da árvore. Já seus irmãos, Arthur, de nove anos, e Fernando, de um ano e quatro meses, auxiliam a mãe a pendurar os enfeites.
A tradição que passa por gerações na família, teve um início modesto com Romana. Primeiramente, ela montava um pinheiro mais simples. Com o passar dos anos, novos objetos para decorá-lo foram adquiridos e a cada Natal ele aumentava um pouquinho.
Margô afirma que tenta passar o costume de montar a árvore natalina para os filhos. “Eu considero importante, acho muito bonito isso”, declara. Os meninos acabam se envolvendo no entusiasmo da mãe e da avó, e crescem em meio a essa tradição familiar.
Apesar de trabalhosa, a atividade é recompensadora. Margô ressalta: “Eu acho que a gente tem que passar esse espírito de Natal”. Ela ainda completa: “Se tu não colocares nada, nem ao menos um pinheiro, vai perdendo o sentido, aí vira só presente”.Sobre a importância do presépio, Margô destaca o seu significado. Para ela, ele retoma valores fundamentais como vida, solidariedade e amor. Além da árvore de Natal, a casa da mãe e da filha possuem outros elementos que tornam o ambiente ainda mais acolhedor. A imagem do Papai Noel aparece nas mais diversas formas. “A minha casa e a casa da mãe parecem a casa da Mamãe Noela”.

Margô e a sua mãe Romana

Théo, Fernando e Arthur

Presentes para agradar toda família

A proximidade do Natal faz com que as lojas fiquem cheias de novidades. O comércio quer oferecer as melhores opções de presentes para os públicos mais variados. São diversos os produtos que despertam a atenção do consumidor e que acabam indo direto para árvore natalina.

Entre as alternativas para as crianças, os brinquedos continuam em evidência. Para as meninas, a Barbie ainda é uma das bonecas mais vendidas, segundo a vendedora Juliana Mohr. Nesse Natal, destaque para os modelos Princesa da Ilha e Fada do Campo. A fada vem com um jogo em DVD e a própria Barbie funciona como controle. Já para os meninos, a sugestão é o boneco Max Stell. Podem ser encontradas diferentes versões, como o Conjunto Batalha de Fogo e a Moto Acrobática.
Roupas também são sempre um bom presente. A proprietária de uma loja do centro da cidade, Cláudia Morsch, afirma que peças de verão vendem bem para o Natal. Tanto vestidos quanto camisetas masculinas têm uma grande procura. No entanto, Cláudia ressalta os tênis como os produtos mais comercializados nessa época.

Outra idéia é presentear com jóias e acessórios. Amanda Kothe, proprietária de uma ótica e joalheria, indica pulseiras, brincos e colares para agradar as mulheres. Já para ambos os sexos, óculos de sol e relógios são ótimas opções.

Os aparelhos eletrônicos estiveram em evidência durante o ano de 2007. Sendo assim, a expectativa de venda de MP3, MP4, MP5 e de máquina digitais é grande para o Natal. A funcionária Maria Ieda Brixius declara que os jovens são os que mais procuram por esses produtos. Segundo ela, além das novidades tecnológicas, os eletrodomésticos também são presentes interessantes. Destaque para a máquina de pão e o grill.

Profissão: Papai Noel

O Papai Noel é um dos principais personagens natalinos. No mês de dezembro, empresas, escolas e entidades fazem as suas festas de encerramento de ano e o bom velhinho está sempre presente. Para fazer a alegria de crianças e adultos, algumas pessoas vestem a tradicional roupa vermelha e imergem totalmente na fantasia do Natal.
Em Venâncio Aires, Ivete Naue aguarda ansiosa por dezembro. Já faz 18 anos que a aposentada é Papai Noel e o amor pela função só aumenta a cada festa. Sua roupa é costurada por ela mesma, com muita dedicação.
Tudo teve início a partir do convite de um vereador da época. Ivete trabalhava na Creche Closs e achou a idéia interessante. Ela começou a atuar em escolinhas e vilas. “Nós íamos de caminhão, inclusive quando chovia, a gente ia entregando balas para as crianças”, recorda a senhora de 62 anos.
Ivete afirma que o trabalho em vilas é o mais marcante: “Ver aquelas crianças que precisam, a gente dá carinho, dá atenção para elas, é muito bom”. Ela ressalta a alegria dos meninos e meninas, a sinceridade do abraço de cada um deles como um incentivo para continuar.
Outro Papai Noel de Venâncio é Gilmar Miguel Gassen, de 46 anos. Ele começou essa atividade em 1997, pois sempre gostou de trabalhar com crianças. Na época, Gilmar era integrante do Rotary Club e isso contribuiu para a sua decisão. Com o clube de serviço, ele vestiu pela primeira vez a fantasia, em visita à vilas.
Quando perguntado sobre as lembranças desses anos como Papai Noel, Gilmar afirma que a APAE é um lugar que o emociona toda vez. Ele declara que naquele ambiente percebe o quanto as pessoas não valorizam a saúde perfeita de seus familiares.
Gilmar destaca como a maior dificuldade deixar a família na véspera do Natal: “Teve vezes que eu já cheguei em casa e não tinha mais ninguém, isso dói”. No entanto, afirma com um sorriso no rosto: “Aquele abraço que a gente dá é como se fosse o filho da gente, então é muito bom”.

A famosa história das formigas

No Natal de 1998, Gilmar estava a caminho da última casa da noite. Ele estacionou na frente do local e pediu para que o dono chamasse as crianças. Enquanto aguardava, ficou parado do lado do carro. Os pequenos vieram correndo e o Papai Noel foi caminhando devagar até que começou a sentir algo em suas pernas.
Ele correu até uma varanda mais ao lado e tirou as botas e as calças para se coçar. Gilmar havia parado em um trilho de formigas pimentinhas e elas estavam em suas pernas. Após tirá-las, ele seguiu para entregar os presentes. No entanto, no meio do caminho, formigas que estavam na barra da calça voltaram a incomodar e o Papai Noel correu novamente para a área da casa.Depois de se recompor, Gilmar foi até as crianças que estavam confusas com a correria do Papai Noel. Ele enfim conseguiu entregar os presentes, mas ainda sentia uma ou outra formiga enquanto estava sentado.

21.10.07

As coisas que deixam de existir

Em um domingo de ressaca me esforço para acordar e almoçar com a minha família. Após comer, uma preguiça gigante toma conta de mim e deito confortavelmente no sofá. Pego o controle da televisão e vou a busca de algo para me entreter.
Na frenética troca de canais encontro uma atração que provoca em mim um sorriso pueril. Começava naquele momento um episódio saudoso de Friends, para o meu delírio. Eu era viciada no seriado durante o tempo de colégio. Assisti feliz aquela meia hora nostálgica. Desejei que Friends não tivesse acabado.
Fico triste quando lembro de algo que gostava muito e que por algum motivo entra em extinção. Os seis amigos de Nova York são apenas um singelo exemplo. No entanto, posso citar outros memoráveis: Kit Kat (recordo da propaganda que tinha uma vaca e dava ênfase no barulhinho maravilhoso do chocolate), Fofys (os biscoitos de ursinhos mais perfeitos que já existiram) e uns chiclets compridos e fininhos que vinham em uma embalagem de latinha que não sei o nome.
Não entendo o motivo pelo qual coisas tão boas saem de mercado. No ramo das guloseimas o que me consola ainda é o chocolatinho Refeição, que inclusive mantém sua embalagem original. Se ele também não fosse mais encontrado não sei o que faria para saciar meus doces desejos.
Na televisão, episódios inéditos de Sex and the City ainda fazem muita falta. As quatro amigas me divertiram durante seis temporadas. Sendo assim, conto o tempo para o lançamento do filme em março de 2008 nos cinemas. Será um breve retorno, acredito que apenas um encerramento da trajetória de Carry, Samantha, Miranda e Charlotte, porém isso vai matar um pouco da saudade da série.
Com certeza cada um que ler esse texto vai lembrar de uma centena de coisas a mais que deixaram de existir, mas não saíram da nossa memória. Se for assim com tudo, expresso imediatamente meu sentimento de lamentação por esse sistema que tira pequenos prazeres da humanidade. Sei que era um ato de canibalismo devorar aqueles amados ursinhos Fofys de chocolate. Todavia, dava a ponta do meu mindinho pela sensação de retornar a infância com um daqueles pacotes vermelhos na mão. Quanta saudade.

14.10.07

Entre velas, imagens e clichês

A entrada é silenciosa. Piso levemente, desejaria flutuar para não ser notada. São 9 horas no horário novo, 8 então na verdade. A igreja encontrava-se cheia e ninguém percebe minha singela presença. Estava 30 minutos atrasada.
Devia fazer mais de um ano que eu não pisava em um templo religioso. No entanto, o sacrifício de levantar tão cedo em pleno domingo era por um amigo, sendo assim, uma missão muito importante.
Parei ao fundo e logo o vi. Ele se destacava naquele ambiente tão casto. Fui em sua direção e sentei no mesmo banco em que estava. Antes que me visse, peguei a sua mão. Seus olhos brilharam quando encontraram os meus. Foi a primeira vontade de chorar.
Nos abraçamos forte. Eu não falei que sentia muito, porém eu realmente sentia demais. Fugi do chavão, mas não consegui evitar as lágrimas quando levantamos para rezar o Pai Nosso.
Meu amigo havia perdido o pai há uma semana. Não conseguia pensar em tamanha dor, impossível dizer “Eu posso imaginar o que estás sentindo”. Seria uma idiota se falasse tais palavras, afinal, enquanto ele chorava a morte daquele que o criou eu sabia que o meu protetor estava em casa e dormia tranqüilamente.
Além de ser uma missa de sétimo dia de falecimento, na ocasião seria realizado o batizado de uma dezena de crianças. Pensei na minha tia e no meu afilhado que deve nascer nos próximos dias. Logo estaria de volta naquela igreja, todavia em outra posição, a de madrinha.
Quanta ironia celebrar a vida e a morte no mesmo dia, na mesma hora. Todavia, é assim independente de religião e da nossa vontade. Depois de refletir olhei novamente para ele. Tinha a cabeça baixa e movia as mãos sob as pernas. Muitas palavras surgiam na minha mente, no entanto deixei o silêncio falar por mim.
O ritual acabou e nos levantamos. Na saída, queria me despedir dizendo algo significativo. Sorri com sinceridade e pela última vez o tive em meus braços. Parecia que aquele homem enorme ia despencar em meu corpo. Senti sua carência e fragilidade naquele momento. Afastei-me e disse “A gente se vê”. Ridícula. Não consegui segurar nem sequer por meia hora um clichê.

7.10.07

Ainda somos os mesmos

Elis que tinha razão. Como ela afirmava: “Ainda somos os mesmo e vivemos como os nossos pais”. Comprovei tal tese na noite de ontem, sou um projeto da minha mãe. Detalhe: isso era tudo que eu temia por toda a adolescência.
Na fase mais rebelde da vida eu odiava o modo com que a minha genitora agia, principalmente em relação aos meus interesses. Considerava-a uma intolerante, ditadora do lar dos Etges. Após as nossas brigas, sempre declarava baixinho choramingando no quarto para mim mesma: “Eu não vou ser assim”.
No entanto, a história mudou um pouquinho. Agora creio que sou levemente mais madura e percebo certas situações de outra forma. Posso assegurar que ando contida, há algum tempo estou mais calma e paciente. Já fui a líder brigona da turma do colégio. Era a primeira a reclamar de algo que não concordava. Hoje, deixo algumas coisas passarem, talvez por preguiça ou comodismo, mas isso não vem ao caso no momento.
Meu pai sempre foi agitado e a mãe mais na dela. Envergonhada, foge até de fotografias. Não sou tão tímida, mas a brabeza característica da taurina aqui de casa é a mesma. Digamos que sou facilmente irritável. Se digo isso com base na análise do meu período atual, imaginem como já fui.
Enfim, as conclusões e pensamentos acima se tornaram possíveis recentemente. Ontem agi exatamente como minha mãe, até fiquei com medo. Os braços cruzados e o biquinho na cara me denunciaram. Não consigo acreditar que vou ser má como ela. Porém, hoje acordei pensando que talvez eu possa entendê-la em algumas situações que antes me pareciam absurdas.
Quando meus pais brigavam e no fim de tudo a via acalmar a situação e procurar um equilíbrio achava estranho. E o orgulho? Não concordava. Agora compreendo que essa palavra não deveria existir ao se abordar relações humanas. Aprendi a relevar tanta coisa, arte que com certeza minha mãe já dominava há tempos.
Hoje me vejo como mediadora também. Conviver com pessoas mais velhas me deu uma certa serenidade para agir e pensar. Isso não significa que não me descontrolo momentaneamente. Tento me conter, troco de ambiente e choro sozinha. Respiro e bebo um pouco de água. Depois de retocar a maquiagem, visto a roupa da namorada compreensível e volto para a sala. Nada como aprender a ser adulta. Preciso praticar mais vezes.

18.9.07

O pior jogo, mesmo com a vitória

Domingo era dia de Gre-Nal. Estava ansiosa durante toda a semana, afinal aquele seria um clássico diferente, para mim ao menos. Fui cedo rumo ao Olímpico, por volta das três da tarde. Encontrei meu pai e meu irmão na fila para entrar, troquei umas poucas palavras com eles e me dirigi até a assessoria.
A sala estava mais cheia do que habitualmente, no entanto entrei sem hesitar. Larguei minha bolsa em um canto e recebi a primeira informação relevante do dia: “Tem chocolate”. O Rodrigo adivinhou minha vontade naquele momento, ou melhor, trouxe o desejo em um copo médio de plástico até mim. Nós dois comemos satisfeitos aquela quantidade considerável de doce. Ah, a glicose!
Fiquei no computador até o chamado para minha primeira missão do dia. Era para eu corrigir um texto da Bianca. Comecei a lê-lo, mas um barulho interrompeu minha concentração. Havia iniciado uma briga entre brigadianos e gremistas próximo ao portão principal do estádio. Muita correria e gritos assolaram minha mente. Todavia, conclui meu serviço e logo tudo voltou ao normal na rua.
Em seguida eu deveria tirar algumas fotos do programa Conversa Tricolor, na Grêmio TV. Fui até lá com um sorriso no rosto, embora estivesse meio triste por ver todos com o símbolo do Grêmio estampado em camisetas e bandeiras. Eu usava uma blusa branca e um casaco azul, uma maneira sutil de referenciar meu tricolor.
Após realizar a tarefa, voltei para assessoria. Começava a ficar nervosa, a movimentação já havia diminuído e o jogo logo começaria. Imaginava a torcida vibrando, o hino como música de fundo da festa da arquibancada. Podia visualizar meu pai e meu irmão, porém havia um lugar vago ao lado deles, era a minha posição.
Vi que tais ilusões ficariam apenas na minha cabeça, afinal, não olharia a partida nem com eles nem das cabines, como muito desejava. Recebi um discurso do Túlio Macedo para digitar e ficaria ali na sala mesmo.
Um sentimento estranho tomou conta de mim. Era diferente estar no Monumental daquela forma. Eu queria gritar, vibrar, xingar, mas era hora de digital o discurso do Túlio Macedo.
Os times entraram em campo e soterrada naquele ambiente queria chorar de raiva. Sim, a ira tomou conta do meu coraçãozinho. Não queria ser adulta naquela hora, não me importava mais com meu estágio.
Peguei alguns trocados e fui até o bar respirar um pouco. Comprei um pacote de Trakinas de chocolate. Caminhava lentamente até a assessoria quando o som do Olímpico mudou. Corri segurando firmemente as bolachas, eu podia cair, no entanto meu pequeno prazer adocicado precisava estar seguro. Cheguei ofegante e não acreditei, tinha sido feito um gol. Fiquei ainda mais decepcionada, mesmo com o placar favorável ao Grêmio.
Devorei as Trakinas. Não duraram cinco minutos. Elas tentaram me conformar diante do meu sentimento, mesmo assim não foram suficiente. Fui para casa quieta, em silêncio, quase em luto. Entrei no apartamento e sentei no sofá. Enfim, meu caminho estava sendo trilhado. Aquele era o primeiro passo. Quero ver quando for a vez da imparcialidade no futebol. Daí nem as bolachas vão ajudar...

12.9.07

A primeira vez

Ansiedade. Diz o meu caro amigo Aurélio que é sinônimo de aflição. Talvez seja. No entanto, para mim era muito mais naquela noite quente de setembro. Enquanto me revirava na cama tal palavra não escapava da minha mente. Sim, eu estava ansiosa.
Sentia-me como uma criança que teria uma excursão escolar no dia seguinte. Meu compromisso não era exatamente uma viagem, porém a expectativa era semelhante. A cada minuto lembrava de algo que deveria carregar comigo ao sair de casa pela manhã. Então, levantava, procurava o objeto desejado e deitava novamente. Essa seqüência foi repetida pelo menos três vezes.
Quando enfim deixei a euforia de lado foram os sonhos que me atormentaram. Recordo que em um dos meus devaneios eu havia quebrado um dente canino da minha boca. Não sei como isso ocorreu nem sequer a continuação da história, apenas tenho a certeza de que vou perguntar maiores detalhes sobre a interpretação do respectivo sonho para a minha tia assim que vê-la.
Acordei com a sensação de alívio pelo fim da noite. Faltava pouco. Tomei um banho e ao me arrumar fui vaidosa como geralmente não sou. Sai levemente atrasada, afinal, conferi minha bolsa quatro vezes antes de deixar o apartamento.
Na aula o tempo parecia não passar. Tentava me concentrar para redigir o texto solicitado, mas meu pensamento estava distante. Fui quase a última a terminar e dali segui para o almoço. Durante a refeição não ouvia as palavras dos outros. Só pensava em determinado assunto. Eu me encontrava em outro plano, flutuava.
Chegou a hora. Estava me dirigindo para lá e a ansiedade realmente se fez presente. Imaginava todas as situações que poderia encontrar, queria me sentir preparada, embora estivesse totalmente insegura.
Entrei na sala e ali estava. Meu primeiro emprego olhava para mim. Ele se materializava naquelas mesas, nas folhas bagunçadas, nos computadores. Foi uma emoção inesquecível. Creio que pela terceira vez na vida me senti adulta. A primeira vez havia sido na minha menarca (que palavra horrível). A segunda na descoberta mágica da adolescência (sem maiores comentários).
Tudo se passou tranqüilamente. Era como se eu estivesse em casa. E creio que eu estava. Estava não, estou e estarei. Afinal, o Olímpico há anos é meu conhecido, quase íntimo. Agora, meu novo lar. Assim espero. E acredito.